ANA SANTOS
CEM - Complexo da penha, penha, rio de janeiro

"O CEM realiza um trabalho de produção agrícola, esse é nosso objetivo, queremos produzir alimento de verdade em grande quantidade, mas para isso precisamos resgatar valores dentro da comunidade (...) Nosso trabalho é de produzir soberania alimentar na favela, de uma agricultura que vai além do plantar. É o cultivo das relações, e essas relações se dão no café da tarde, na escolinha, na troca, na simples escuta. Resgatar isso é muito importante, pois ensinam pra gente que a gente tem nossa casa, que a gente tem nosso individual, e eu acho que a gente vai vivendo tão isolado… e esse território é tão diferenciado, passa da porteira voce sente outro ar, outra atmosfera, a terra pulsando."
Ana Santos, CEM, Rio de Janeiro - RJ
Ana Santos tem 40 anos e é neta e filha de agricultores. Ela nasceu no morro do Puri, município de Nilópolis, na Baixada Fluminense, onde sua família cultivava alimentos e ervas medicinais. Aos 25 anos, passou a compreender o valor da agricultura como meio de subsistência, trabalho e motivação para seus sonhos.
Desde 2010, Ana trabalha com agroecologia na Serra da Misericórdia, tendo sido uma das fundadoras do Centro de Integração da Serra da Misericórdia (CEM), envolvendo mulheres e crianças. A inspiração para a criação do CEM veio de diferentes fontes, como os conhecimentos compartilhados com Luiz Poeta na vila olímpica no Alemão, abordando sobre plantas comestíveis e sucos naturais; as vivências de Marcelo, seu companheiro, com o cinema e o grafite no morro do Alemão; e o trabalho realizado pelo Verdejar.
Ana e Marcelo, juntamente com o CEM, trabalham na construção de um território saudável e sustentável, promovendo a participação da comunidade para alcançar a soberania alimentar, o saneamento, o acesso à água e a dignidade na moradia e no cultivo de alimentos.
ENTREVISTA
O CEM E A LUTA POR SOBERANIA ALIMENTAR NA FAVELA

A SEDE DO CEM
EDUCAÇÃO
CISTERNA COLETIVA

QUINTAIS AGROECOLÓGICOS


Ana e Marcelo chegaram à Serra da Misericórdia após perderem sua última sede em Aymoré. Eles escolheram uma localidade ainda não habitada, com arredores propícios para o plantio. Desde sua chegada em 2011, o território passou por mudanças significativas. Inicialmente desocupado, era apenas uma área de mata, mas logo passou a enfrentar ações de violência e receber novos habitantes que valorizavam a preservação do verde.
Com a chegada de luz e água, o espaço se tornou uma favela - "Terra Prometida". Hoje, lutam por sua legitimação através da regularização fundiária. A sede possibilita a moradia com áreas de plantio e permite uma maior integração com a vida dos moradores, consolidando assim as ações do CEM no território.
O CEM realiza um trabalho de produção agrícola para garantir a disponibilidade de alimentos saudáveis em quantidade significativa. Por meio do resgate de valores dentro da comunidade, busca-se estabelecer outras formas de relação com o território, valorizando espaços pouco utilizados e promovendo o conhecimento e a soberania alimentar. O trabalho do CEM abrange o acompanhamento de quintais agroecológicos, além de incentivar o plantio de árvores e a recuperação de nascentes, capacitando pessoas como guardiãs das nascentes para restaurar a abundância de água que existia na serra. O CEM também possui a Escola Agroecológica, onde são realizadas atividades com crianças, incluindo a produção de sabão a partir da reciclagem do óleo de cozinha, visando envolver também as mães.
Além disso, o CEM se articula politicamente com a Rede CAU, possibilitando ampliar sua atuação para outras esferas. Em seu território, promove o evento "Café com Política", onde são debatidos diversos temas, tais como reforma agrária, agrotóxicos e direito à cidade.
“Água é direito ou privilégio?” Para Ana, o isolamento da pandemia foi um processo excludente e promoveu uma reflexão sobre a desigualdade social, o racismo ambiental e a falta d´água nos territórios populares. Por isso, o CEM fez uma campanha virtual “Água é Direito - Saúde e Comida na Favela!” que arrecadou, em 11 dias, 49 mil reais para a construção de uma cisterna coletiva para a comunidade. A campanha contou também com apoio internacional. A cisterna possui capacidade para 75 mil litros e tem como objetivo principal aumentar a segurança hídrica das famílias e viabilizar a irrigação da produção agroecológica.

O CEM realiza o acompanhamento técnico de oito quintais agroecológicos. Os quintais variam em tamanhos e tipos, incluindo quintais em solo, em lajes e em vasos. Além disso, existe um espaço destinado a plantações maiores, com mais de 4 hectares, onde é praticado o plantio de agrofloresta em curva de nível, atendendo tanto a produção de alimentos tanto para alunos da escola local, quanto para os moradores.
Na visão de Ana, "o caminho a seguir é o da agrofloresta, embora esse ainda seja um termo técnico. O foco está na pitanga, na manga, na goiaba, na macaxeira", ou seja, no cultivo e valorização de espécies frutíferas e alimentos cultivados da região, para a soberania alimentar.





"O CEM está articulado com várias redes, dentro e fora né. A agroecologia se faz em rede, eu conheci esse termo depois, mas minha vida sempre foi fazer redes (...) Ninguém vive sozinho, a gente precisa estar articulado o tempo todo, (...) porque estamos em um território de alta fragilidade, alta complexidade e alta violência."
Ana Santos, CEM, Rio de Janeiro - RJ
escala da produção

RAÍZES
