RUSSO
alcri - jacarepaguá, Rio de janeiro
"Tem que quebrar aquela história que o orgânico é caro, porque hoje em dia eu tenho um pé de alface ali que custa ali 3 reais, mas se o cliente falar, falar, falar ele vai levar 2 por 5, enquanto acho que no sacolão está esse preço também"
Russo, ALCRI, Rio de Janeiro - RJ
José Antônio Pereira, mais conhecido como Russo, tem 55 anos é agricultor urbano no Pau da Fome, região do Maciço da Pedra Branca, área de conservação ambiental localizada na Taquara. José Antônio é neto e filho de agricultores capixabas que vieram para o Rio de Janeiro na década de 1970. Produz alimentos agroecológicos na área de amortecimento do Parque Estadual da Pedra Branca, próximo à entrada do Pau da Fome. Nessa área, Russo cultiva banana, caqui, aipim, chuchu, algumas variedades de limão e tangerina, bem como ervas aromáticas e medicinais, frutas, hortaliças e legumes. O deslocamento é feito a pé e os alimentos são carregados no lombo das mulas. Orgulhoso de ser considerado um agricultor urbano, Russo integra a Associação dos Lavradores e Criadores de Jacarepaguá (ALCRI) e já tem sua certificação de produtor orgânico através do SPG, pela Rede CAU, desde 2014.
ENTREVISTA
A CASA E O PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA
O SÍTIO PRODUTIVO
A família de Russo adquiriu o sítio dois anos antes da fundação do parque, em 1972, de famílias que habitavam essas terras desde a época da exploração de carvão. O nome é Sítio do Arlindo, mas é passou a ser conhecido como Sítio das Frutas, uma vez que é costumeiro de frequentadores da trilha pegarem mexiricas. Eles nunca realizaram desmatamento na mata. Ao invés disso, percorriam caminhos dentro da mata para chegar a algumas áreas de cultivo e transportavam os alimentos ao longo das trilhas, usando o lombo de uma mula ou caminhando a pé.
O sistema agroflorestal cultivado por Russo é principalmente composto por árvores frutíferas, como banana, caqui, mexerica, laranja, tangerina, goiaba, manga, além de aipim e plantas medicinais. Ele utiliza adubação proveniente de sua compostagem e da poda de suas próprias plantas. As principais dificuldades enfrentadas são a falta de mão de obra para auxiliá-lo no sítio e questões logísticas, especialmente em dias chuvosos. Apesar dos desafios, em 2022, ele plantou 40 mil berços de aipim, chegando a colher 600 kg em apenas uma semana. A comercialização de sua produção é realizada utilizando um carro antigo.
PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA
Antes da adoção de sistemas agroflorestais, as terras do Parque Estadual da Pedra Branca eram cobertas por capim e capoeira, como era conhecida a vegetação secundária. Todos os anos, ocorriam incêndios e os moradores tentavam controlá-los antes mesmo da existência de uma guarda do parque. Essa situação melhorou com o passar do tempo, pois o capim foi substituído por um sistema agroflorestal que inclui o cultivo de legumes e frutas e também possibilitou o avanço da floresta.
Há algumas décadas, a administração do parque não mantinha uma relação de parceria com os agricultores, proibindo o cultivo e, consequentemente, ameaçando seu modo de vida. Esse cenário mudou quando a Rede CAU apoiou a criação de um plano de manejo, mudando a percepção dos gestores, passando a valorizar os agricultores como parte do parque. Hoje, esse plano de manejo inclui a possibilidade de utilizar uma pequena quantidade de lenha para cozinhar ou um pouco de bambu para fazer telhados, e até mesmo a realização de uma feira agroecológica dentro do parque, na entrada Pau da Fome.
A agricultura agroecológica, por ser parte integrante da floresta, constrói uma boa relação com a natureza, auxiliando no surgimento de novas nascentes e no fornecimento de alimento para animais como tatus e lagartos, além de prevenir o alastramento de incêndios.
PRODUÇÃO DE SEMENTES CRIOULAS
A família de Russo é guardiã de sementes crioulas há várias gerações.Ele conta que seu pai trouxe muitas delas do Espírito Santo, como a de abóbora cachu - um tipo de abóbora que lembra um melão e, quando seca, torna-se uma cuia - além das sementes crioulas de maniva e mandioca.
Com o apoio de agricultores parceiros e de ONGs como a AS-PTA, sua família conseguiu cultivar outros tipos de plantas no Rio de Janeiro, como milho, feijão e quiabo. Russo agora reproduz essas culturas e pode doar e trocar sementes com outros agricultores. Ele planta tanto para obter alimentos quanto para obter sementes, que são cuidadosamente guardadas em garrafas pet. Parte delas é doada, enquanto outra parte é utilizada para o plantio da próxima safra.
Russo acredita que a troca de sementes é de extrema importância, pois fortalece os agricultores. Se um agricultor perde determinada variedade de semente, outro pode ter essa variedade guardada e, assim, as diversas variedades de sementes são preservadas e não se esgotam.
CSA Organicamente
A maior parte da comercialização dos alimentos produzidos por Russo é através de feiras geridas pela Rede CAU e pela Comunidade que Sustenta a Agricultura Organicamente (CSA). Ele também já forneceu, por alguns anos, seus alimentos para a rede pública de ensino por meio da Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Sua comercialização é focada principalmente em alimentos in natura, como frutas, hortaliças e legumes. Ele possui um certificado de conformidade orgânica para sua produção, que obteve ao participar do SPG da Rede CAU.
Nesses espaços de comercialização, ele valoriza as oportunidades de conversar, trocar conhecimentos e estabelecer relações com outros agricultores que cooperam, planejam e realizam a feira em conjunto. Da mesma forma, Russo interage com os consumidores que se tornam parceiros, muitos dos quais desejam aprender mais sobre agroecologia, procuram por alimentos específicos ou necessitam de serviços de poda.
“Eu acho que ele é muito importante, o tatu. Ele me dá um pouquinho de prejuízo no aipinzal, mas ao mesmo tempo, quando ele faz um buraquinho ali, quando a água bate ali, ela sai molhando todo aquele aipinzal. (...) E falo também do lagarto. Sem o lagarto a gente tinha muito mais formiga, muito mais insetos predadores”
Russo, ALCRI, Rio de Janeiro - RJ
escala da produção
RAÍZES
HORTALIÇAS
Agrião; Abóbora
Aipim; Batata
grãos
FRUTÍFERAS
Caqui; Banana, Limão; Laranja
Feijão; Arroz
ORNAMENTAIS
MERCADOS
INSTITUCIONAIS
FEIRAS
CESTAS/CSA
VENDA NO LOTE
TROCAS
AUTOCONSUMO
"Se a gente não catucar, ninguém nunca vai conhecer a gente. Por exemplo, no passado a gente não era reconhecido, como estava escrito lá, que a gente não existia agricultura no Rio de Janeiro. Então a gente não existia. A gente conseguiu quebrar isso, mas até hoje, ainda alguém fala que não existe agricultura no Rio de Janeiro, mas a gente está aqui."
Russo, ALCRI, Rio de Janeiro - RJ
Destino da produção de alimentos do Russo
Frentes de comercialização não realizadas
COMERCIALIZAÇÃO
Feira da Freguesia,
Feira Parque Pedra Branca,
eira Josué de Castro (Fiocruz Manguinhos),
CSA Organicamente (Humaitá)
Russo comercializa principalmente nas feiras da Rede CAU e através da Comunidade que Sustenta a Agricultura Organicamente (CSA). Nos espaços de comercialização valoriza oportunidades de conversar, trocar saberes e criar laços com os demais agricultores, além de se aproximar dos consumidores, que se tornam parceiros.
"Fazemos muita troca de semente, em feira, e com agricultores parceiros. É uma coisa que eu acredito muito é isso, troca de semente. Eu acho que não tem que cobrar tanto por uma semente. Eu acho que tem que dar essa semente pro camarada para um dia se eu perder, por exemplo, ele tem."
Russo, ALCRI, Rio de Janeiro - RJ
percurso entre a casa do russo e a feira agroecológica da freguesia: 14.223 m
percurso entre a casa do russo e a feira de manguinhos: 24.928 m
percurso entre a casa do russo e a feira do humaitá: 39.040 m
Tecnologias sociais (TS)
Entendemos como tecnologias sociais (TSs) aquelas produzidas para atender às necessidades de quem as produziu, ou seja, orientadas para a reprodução da vida dos trabalhadores.
Forma de cultivo integrado que valoriza a agrobiodiversidade, o consórcio de espécies e as especificidades de cada solo e bioma e, portanto, livre de agrotóxicos. Prioriza circuitos curtos de produção e consumo e baseia-se em relações de trabalho digno.
HORTA
AGROECOLÓGICA
COMPOSTAGEM
processamento/
beneficiamento de
alimentos
TSs adotadas
manejo de
plantas
medicinais
SALÃO DE BELEZA
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SANDRA E MARIDO
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FILHO, NORA E NETOS
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saneamento ecológico
plantio agroflorestal
atividade de educação ambiental
artesanato
Agricultores que guardam, multiplicam e transmitem através de gerações as sementes crioulas - aquelas adaptadas e selecionadas há décadas nas suas localidades específicas.